Sugar e ser sugada


Sugar e ser sugada pelo amor no mesmo instante, boca mil, valente o corpo, dois em um, o gozo pleno que não pertence a mim nem te pertence, um gozo de fusão difusa transfusão, o lamber o chupar e ser chupado no mesmo espasmo é tudo boca boca boca boca sessenta e nove vezes boquilíngua.
Carlos Drummond de Andrade
A coisa explodiu em mim
como conter a energia
que derrama-se e me arrasta
deixando um rastro de mim
e era eu quem me dera
continuar sendo assim
tão eu tão minha eu em mim
a coisa foi um estrondo
mas só o corpo sentiu
restou a pele que eu era
e ainda crêem que sou
por baixo dos poros de mim
as fibras derretem-se e formam
uma mesma e massiva amorfia
alada tensa intensa
toda borda transbordo-me toda
me despejo em desejo e tesão

(Wilton Cardoso)

DESVAIRADOS


Eu? Gosto mesmo é de sentir seu cheiro
Sugar-te hei. Inteira para dentro de mim
Este é o meu prazer.
Quando nossos corpos então em ebulição
Impregnamos um ao outro antes do fim
Para depois me encontrar no fundo de ti.
Pergunta-me:
– Será normal tal conduta?
Respondo-te:
– E de que se importa ser normal?
Se nossa religião é o prazer.

(Fernando Candido)

COISA DE MINUTO

Vem, me pega, me morde
Me joga na parede
me faz lagartixa
que o homem vem
que a sogra espreita
que a adrenalina subiu
que o cio pede
e eu desejo ardentemente!

Vem, me xinga
me pega de jeito
de qualquer jeito
à qualquer hora
quando puder
e quando quiser...

Tô fazendo justiça com mãos
matando cachorro a grito
Metendo os pés na jaca
No minuto do sexo sem nexo
Pra dizer que te quero!

(Ulisses Rocha Filho)

DE LIQUIDA CARNE

Meus seios tomam a forma
do momento que os contém.
Se colhidos pela boca
alongam ardidas pontas.
Se aprisionados na mão
acrescem à própria curva
a curva doce da palma.
E quando soltos ao vento
no meu corpo em correria
ondejam
como a maré que a água faz na bacia.

(Marina Colasanti)

DOCES PRAZERES


Ela sopra,
com força o ar quente e sensual,
da sua boca que se confunde com o calor da noite
que entra pela fresta da janela.
Alta vai a noite
nessa cama pornograficamente escaldante,
noite diabólica,
o vira e revira corpo e pensamentos,
procurando a posição mais correcta,
e acima de tudo uma ideia que a refresque e adormeça.
Metade da cama é o espaço que lhe cabe,
que ali no outro lado, estou eu, derretendo.
Ela emana um calor adormecido
e goteja um suor perfumado ao toque do meu corpo,
delineia uma fronteira invisível nesse lençol amarfanhado,
das voltas e reviravoltas.
Ela bebe a água quente, da garrafa,
molha cabelos, pescoço e pêlos,
olha o branco do teto e rende-se,
ao sabor do calor,
à fadiga,
à insónia,
encaixa-se em mim pelas costas em forma de concha,
cola pernas,
costas no meio peito,
sente a minha boca no seu pescoço,
e puxa a minha mão,
para lá do delta de Vénus e encharcada de suor,
entrega-se a doces prazeres diabólicos...

APÓS O BANHO


Após o banho, nua
ainda, o corpo molhado
ao meu encontro, visão,
relembro, cálido êxtase,
os seios entrevistos
no decote frouxo, agora, nua,
toalha molhando-se, ressurgem
após o banho,
gemendo, suave embalo, avidez
de língua e mãos, nua, vens,
perfume, sulcos na pele,
ansiada espera, curvas, a entrega
ao meu olhar, bocas, rosa
túmida, pétala, sucção, espuma,
resplandeces para mim, nua,
após o banho.

EXPRESSO EROTICO AO ACORDAR


Procuro uma chávena de café expresso
amargo, puro e quente
sorvo o líquido espesso
vagarosamente…
Deixa-me sentir na boca
aquece a língua e lábios
afasta as canelas, arreganha o ventre
abocanho tudo e absorvo, o gole
insaciável e descaradamente…
Estala nos lábios
mistura aromas e humores
encharca o nariz, permuta calores
Entorpece-me nos sabores
vai ao limite do gozo
começa tudo de novo…
Até ter vontade de gritar
Do décimo andar
isto é o que eu sempre desejei.
Um expresso erótico ao acordar...

BEIJO PALADAR DOS NOSSOS DESEJOS


Beijos canibais
mordidos
lambidos
sugados
devorados
doces
quentes
ardentes
Delicia-me o teu beijo salgado
quando nele me reencontro...
É o paladar do nosso desejo
É o link de duas vontades...
Cada beijo que não te dou
fica guardado na minha boca
à espera que tu chegues. . .

DISCURSO PROVOCANTE


Na minha cama, pela madrugada,
eu beijo a tua boca,
sentindo a maciez do teu corpo,
com o toque da minha mão,
dos lábios finos e macios,
que se abrem e que se fecham num discurso provocante,
com o delírio do calor do meu corpo nu,
um corpo de mulher,
que se esconde nos lençóis da minha cama.
E eu respiro o ar quente dos teus lábios,
misturo o teu suor no meu corpo,
na cama ouço os teus íntimos segredos,
delírios feitos de gemidos
e de vontades secretas
e tu murmuras baixinho,
com as tuas mãos no meu peito.
“Dorme! Meu amor!”
dizes-me tu, pela manhã baixinho,
com as tuas coxas entre as minhas pernas...

A VALSA DO PRAZER

Excitas-me
quando teu corpo dança pra mim
a valsa do prazer...

A LINGUA GIRAVA NO CÉU DA BOCA


A língua girava no céu da boca.
Girava! Eram duas bocas, no céu único.
O sexo desprendera-se de sua fundação,
errante imprimia-nos seus traços de cobre.
Eu, ela, elaeu.
Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu.
A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava.
Consumia-nos em piscina de aniquilamento.
Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino,
vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.
A custo nossos corpos,
içados do gelatinoso jazigo, e restituíram à consciência.
O sexo reintegrou-se.
A vida repontou: a vida menor.

(Carlos Drummond de Andrade)

Meu amor


O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz.

"Ópera do malandro"
Chico Buarque de Holanda

PARA ALÉM DO VENTO


Volúpias em corpos que bailam submersos,
Dispersam em nós o sémen da procriação.
São inocentes os nossos dias em tentação,
Anseios da natureza doces como versos…

Mordiscaste a minha boca em provocação...
Desejos inatos tão diferentes, tão diversos,
Anunciando um tempo novo sem reversos,
Ardendo como fogo em adoçada erupção….

E a natureza nos cobriu com vento criador,
Confiando as sementes num acto de amor,
Quando o teu corpo fértil comigo dançava!

Além de nós havia um tempo pouco visível,
Para que recomeçássemos, num cio sensível,
E o teu corpo com ingénita sedução bailava…

(Rogério Martins Simões)

QUERO LHE BEIJAR A BOCA


Quero lhe beijar a boca
morder seus lábios
e brincar sua língua na minha.
Quero lhe beijar a nuca
lhe arrepiar inteiro
encostar meu peito no seu
até os corações se compassarem
as mãos entrelaçadas suarem.
Quero um abraço eterno
de guardar seu cheiro na minha pele.
Quero me queimar no seu fogo
e guardar pra sempre a cicatriz escarlate
desse nosso encontro.

DO TEU CHEIRO


O gosto da tua pele
sal impregnado em meus lábios
Indecências
Quantas esteiras de luz
se acendem quando me tocas?
Milhares de estrelas
espetam meus dedos

rios se perdem

deixando em abandono os seus leitos.
E um atropelo de veias sangue
correndo veloz
sem saída.
Tantas farpas me cortam a pele
tantos frios eriçam meus pelos
quando me tocas...
Eu ardo febril
- tantas chamas -
e tremo de medo

- quantos gelos -

quando me tocas...
Tantas catástrofes
tumultos
revoltas provocas em mim.
Alteram-se os sais

queimam-se calorias

e quantas loucuras
submetes minha química
quantas queimaduras me causa a tua pele.
A quantos perigos me exponho
quando me tocas...
que me mata de sede
à beira da fonte dos teus prazeres.

O teu gosto na minha boca mel
que sacia meus desejos

na hora derradeira

do medo de te perder
em meio aos lençóis.
O teu cheiro impregnado no meu corpo
perfume raro que nem a chuva
leva de mim...
Querido ,

tenho que confessar que desde que te conheci me senti atraída pelos seus modos de conversador galante, mas no início foi um pouco difícil entender seu jeito meio imprevisível de ser e seu comportamento inconstante e enigmático.
No entanto, acho que aprendi a te aceitar assim como você é, ou melhor aprendi a gostar de você em todas as suas formas, sem esquecer de dizer que o que mais sobressai em você é sua constante alegria e cordialidade, sua inteligência viva e seu espírito animado e agregador.
Estar com você e gozar da sua companhia é muito agradável, pois sei que você também gosta de estar comigo, pois estamos juntos sem que nos controlemos mutuamente e sem que nos sintamos responsáveis um pelo outro. Gosto dessa sua independência de espírito, desse seu modo de estar comigo sem me sufocar e sem se deixar ser sufocado, pois sei que sua aparência às vezes fria e distante não são sinais de desinteresse mas, talvez, apenas uma forma de se proteger de indesejáveis invasões.
Dizem as más línguas que os geminianos, como você, precisam ter dois amores. Sou apenas uma mulher, querido, mas saiba que me sinto capaz de oferecer-lhe todos os amores do mundo.

Aceite um beijo meu